segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Mundo Moderno - Chico Anysio

Hoje assistindo o especial de Chico Anysio na Globo, parei pra pensar na magnitude deste mestre não só do humor, mas da história do teatro brasileiro. Então eu lembrei deste video que eu vi há muito tempo no youtube, e foi reexibido no especial de 18 anos do programa do Jô. Simplesmente incrível. Vale a pena ver!





Mundo Moderno
Chico Anysio
Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio – maior maldade mundial.

Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matungo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.
Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, maratonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas. Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, Mercedes, motorista, mãos… Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meia-água, menos, marquise.

Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.

Acho que nem há o que acrescentar. O fato de todas as palavras começarem com a letra M dá um charme e deixa o poema muito mais atraente. A interpretação de Chico Anysio serviu bastante para preencher a lacuna que há pela ausência de preposições, artigos, pronomes; a poesia é composta praticamente de substantivo, adjetivo e verbos. Ainda por fim, ele termina o show imitando Louis Armstrong em “What a Wonderful World” que por si só já foi um show à parte.

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